sexta-feira, 1 de junho de 2012

JOSÉ DO TELHADO TERCEIRA PARTE

 JOSÉ DO TELHADO, PARTE TRÊS!
O Zé era um homem destemido e decidido, depois de uma farta luta para se vingar do seu opositor José Pequeno cortou a língua ao delator que acabou por morrer, facto que constituiu motivo para festejo dos aldeões das redondezas. Zé Pequeno era um sanguinário ladrão. A perseguição das autoridades ao Zé torna-se implacável… este já não tem onde esconder-se.
Aconselhado pelos mais fiéis amigos, pensa em voltar ao Brasil. Assim decide e viaja até ao Porto para, clandestinamente tomar o barco de destino. Pelo caminho, pede asilo, por alguns dias, à dona da Casa do Carrapatelo, D. Ana Vitória, a quem já assaltara. Dona Vitória fica surpreendida mas, recorda com reconhecimento, o respeito que Zé do Telhado exigiu aos seus parceiros de quadrilha e, acede a dar-lhe guarida. 
Dias depois, em segredo, Zé toma o barco em Massarelos mas, é denunciado por um delator que o viu entrar no navio. O administrador de Marco de Canavezes consegue, finalmente, apanhar Zé do Telhado!
Preso na cadeia da Relação do Porto, é julgado dois anos depois, o processo iniciou-se em 30 de Maio de 1859, com acusação pública em 9 de Dezembro do mesmo ano. Foi condenado por sentença do juiz António Pereira Ferraz, de 27 de Abril de 1861, na pena de trabalhos públicos por toda a vida, na costa ocidental de África e no pagamento das custas. Esta pena foi mantida pela Relação do Porto, substituindo apenas a expressão "costa ocidental de África", por "Ultramar".
Por acórdão da mesma Relação de 11 de Agosto de 1865, foi comutada a pena aplicada na de 15 anos de degredo para a África Ocidental, a contar desde a data do Decreto de 28 de Setembro de 1863.



   A condenação reportou-se a diversos crimes cometidos com violência: tentativa de roubo, com começo de execução, em casa de António Patrício Lopes Monteiro, se Santa Marinha do Zêzere, comarca de Baião; homicídio na pessoa de João de Carvalho, criado de D.ª Ana Victória de Abreu e Vasconcelos, de Penha Longa, Baião, e roubo na casa de referida senhora (Casa de Carrapatelo) de objectos de ouro e prata no valor de oitocentos mil e um conto de reis e algumas sacas com dinheiro, cujo valor a queixosa calculou em doze contos de reis, não sabendo ao certo quanto era, porque o dinheiro se encontrava na casa mortuário onde jazera, poucos dias antes, seu pai, e, após isso, ela ainda nem sequer lá voltara a entrar; roubo em casa do Pr. Padre Albino José Teixeira, de Unhão, comarca de Felgueiras, no valor de um conto e quatrocentos mil reis em dinheiro e ainda objectos de prata e outro; outro homicídio na pessoa de um correligionário, ferido num confronto com as autoridades. 
 
Para além de outros crimes de roubo e de resistência à autoridade, foi também condenado como autor e chefe de associação de malfeitores e de tentativa de evasão do reino sem passaporte e com violação dos regulamentos policiais.
A sua qualidade de chefe é que o tornou responsável pelo homicídio do Carrapatelo, pois o autor material foi um capanga que abateu o criado quando este tentou reagir, num momento em que o caudilho ainda nem entrara na residência.
A ação do Zé do Telhado, alcunha de José Teixeira da Silva, integra-se no fenómeno organizativo de grupos de assaltantes que tem a sua génese, de formação espontânea, durante as invasões francesas. Perante a total falta de reação do exército português à entrada dos napoleónicos, grupos de populares procuram quebrar a total impunidade dos invasores. Esses grupos, veras milícias populares, entretanto com experiência guerrilheira acumulada, foram aproveitados na guerra civil liberal por forças políticas e militares em campo: os "corcundas" (absolutistas) e os "malhados" (liberais).
Usava evoluída assinatura, com o último apelido abreviado (S.ª), curioso indício de cultura acima da vulgaridade, no Tribunal de Marco de Canavezes e, condenado ao degredo perpétuo com trabalhos públicos, em África. É transferido para a cadeia do Limoeiro em Lisboa. Dali é embarcado no “Pedro Nunes” e lá vai para o degredo em África de onde, nunca mais regressará.
Mesmo em África, Zé era estimado por todos, gozando de poderes e algumas liberdades.
Faleceu em 1875, em Xissa, Malange, onde ficou sepultado.
Na campa, onde jaz, consta uma data de nascimento igualmente falsa. As quadrilhas integravam padres, morgados, administradores, empresários e alfaiates. Nunca foram julgados. A História reconduz-nos a julgamentos recentes, alguns dos quais da atualidade...
Estou certo que, o facto de Zé do Telhado ser uma figura incomodativa para certa burguesia “bem pensante” da época, não recolhe, senão nas bocas do povo, o reconhecimento de figura marcante de uma das fases da história de Portugal.
JOSÉ DO TELHADO Mestre e Repartidor Público que hoje com a sua quadrilha, certamente conseguia acabar com o capitalismo ligado por sua vez às empresas de rating que condicionam o País e a Europa.

Fundamentado:  
JOSÉ DO TELHADO O ROBIN DOS BOSQUES PORTUGUÊS?VIDA E AVENTURA José M. Castro Pinto Plátano Editora, Lisboa 2002
Jorge Afonso publicava in Diário de Aveiro de 29 de Outubro de 2007
António Nobre - Viagens na Minha Terra.
Processos Históricos dos Tribunais do Distrito Judicial do Porto

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