sexta-feira, 1 de junho de 2012

JOSÉ DO TELHADO SEGUNDA PARTE

 
  JOSÉ DO TELHADO, PARTE DOIS!

O Zé do Telhado em suma, era o orgulho da pacata aldeia de onde era natural.
Tornou-se homem muito cedo já que, aos catorze anos saiu de casa começando por abraçar a profissão de castrador e de curandeiro de animais, atividade conhecida pela designação de “alveitar”, ou seja, veterinário não diplomado. 
A primeira contrariedade da sua vida foi o amor escondido que tinha com a sua prima Aninhas, ao qual, o seu tio e pai daquela bela donzela, um ex-soldado das fileiras de Napoleão que, aquando das invasões francesas, por cá ficou, não davam tréguas nem consentimentos. O amor entre os dois, esse, resistiu pelos anos fora até se consumar o enlace… o Zé nunca foi homem de desistir.




Passava por Novelas, Bustelo, Lousada mais precisamente em Caíde de Rei... e poder-se-á entender que o poeta António Nobre já nos seus apontamentos se referia ao Zé do Telhado quando dizia, “ E eu ia álerta, olhando a estrada, que em certo sitio, na Trovoada, costumavam sair ladrões. Ladrões! Ó sonho! Ó maravilha! Fazer parte d'uma quadrilha, rondar, á Lua, entre pinhaes! Ser Capitão! Trazer pistolas, mas não roubando, - dando esmolas…” [Viagens na Minha Terra].
 Era assim visto o salteador pelo poeta, quando o pai da Aninhas acabava por aceitar o enlace da sua filha Aninhas com o seu sobrinho Zé do Telhado, goradas as ideias peregrinas de a ver casada com um dos abastados ricos pretendentes da região. Com a breve acalmia da guerra civil, regressou a Lousada, onde vivia a sua amada a fim de consumar o casamento. Assim aconteceu, tendo, regressado à vida das feiras e práticas de “alveitar”.
 Chegada a vida militar, lá foi rumo a Lisboa. Rapidamente, devido à sua subtil inteligência e bravura se tornou no orgulho dos oficiais do Regimento onde serviu, sendo conhecido no meio pelo “soldado do Norte”.
E foi exatamente aí que a sua vida começou a projetar o Zé do Telhado que conhecemos. A falta de entendimento entra os protagonistas políticos de então, levou à guerra civil entre Setembristas e Cabralistas, na qual o nosso Zé se viu envolvido, lutando pelos Setembristas, ao lado do Marquês, Sá da Bandeira.
Entretanto, a guerra civil retoma o país, agora mais sangrenta que nunca devido ao envolvimento popular. 

 O nosso leal Zé do Telhado ainda pensou que, o seu general Sá da Bandeira posteriormente lhe arranjasse um bom emprego pelos serviços prestados, para fazer frente à situação de miséria em que a família se encontrava… Zé do Telhado gastou todo o dinheiro que tinha e hipotecou todas as propriedades que possuía para ajudar a luta contra os Cabralistas.
Bem esperou mas, nada! Terminada a guerra, ficou o gosto e o proveito da guerrilha por conta própria: é o João Barandão, é o Remexido, é o Zé do Telhado.
 Este atingira, ao serviço liberal, a glória, com a atribuição da Torre e Espada. Finda a guerra pretendeu um emprego no Depósito do Tabaco, no Porto. Não conseguiu.



Com a miséria dentro de casa, Zé pede ajuda batendo a várias portas… todas se fecham incluindo a do padre seu compadre e padrinho da sua filha! Agora, com a vitória dos “Cabralistas”, ninguém conhecia o fiel lutador Zé do Telhado. Ao chegar perto de casa, Zé ouve os filhos a pedirem pão à mãe Aninhas. Era demais! Zé não consegue suportar mais aquela situação e decide roubar para matar a fome aos seus.
O primeiro roubo foi a um modesto pedreiro. Zé pergunta-lhe: quantas moedas trazes? Tenho dez mas, foram ganhas honestamente com o meu trabalho! O nosso Zé diz-lhe: dividimos isso… dá cá cinco e fica com outras cinco. Anos volvidos, Zé do Telhado viria a devolver as cinco moedas ao modesto trabalhador.

Entre lamentos da sua situação e a realidade, Zé integra-se na famosa quadrilha do conhecido “Boca Negra” onde militava o seu irmão Joaquim do Telhado.
Os assaltos sucederam-se, nas regiões da Beira Alta, Beira Baixa, Vale do Sousa, e a distribuição dos roubos pelos necessitados, integrado no mesmo bando, entre a “honra” da substituição do chefe Custódio, o “Boca Grande” e a presença na quadrilha, do seu inimigo de estimação, José Pequeno. Os assaltos estendem-se, agora, às regiões do Alto Douro, Minho e Trás-os-Montes.
A fama de Zé do Telhado depressa se espalhou pela região. Aninhas, não suporta aquela situação e trata de arranjar formas do marido ir para o Brasil mudar de vida e limpar a reputação da família. Zé do Telhado viaja para o Estado do Rio Grande do Sul, naquele grande país em busca de alguma riqueza.
No Brasil, Zé retoma o seu trabalho de “alveitar” e, bem-sucedido. Zé é informado que, o dinheiro que envia para a sua Aninhas nunca lhe chega às mãos. A raiva e as grandes saudades dos filhos e da sua querida Aninhas, tomam-no, fortemente, e decide voltar à sua aldeia…ainda mais pobre do que nunca.
 Pela iniciativa do governador de Lousada, que pede reforços militares, começa a perseguição das Autoridades a Zé do Telhado. Com a destreza e valentia que o caracterizam, lá vai escapando e enfrentando as forças militares. O cerco aperta-se, cada vez mais! 
 O administrador do Marco de Canavezes empreende uma perseguição, sem tréguas ao quadrilheiro, contando com a colaboração do traidor José Pequeno que, dá informações sobre o seu chefe. Zé do Telhado vai no encalço do sanguinário e traidor José Pequeno....

Fundamentado:  
JOSÉ DO TELHADO O ROBIN DOS BOSQUES PORTUGUÊS?VIDA E AVENTURA José M. Castro Pinto Plátano Editora, Lisboa 2002
Jorge Afonso publicava in Diário de Aveiro de 29 de Outubro de 2007
António Nobre - Viagens na Minha Terra.
Processos Históricos dos Tribunais do Distrito Judicial do Porto

Para ver a terceira parte clik a seguir em ...




 


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