O Zé do Telhado em suma, era o orgulho da pacata aldeia de onde era natural. Tornou-se homem muito cedo já que, aos catorze anos saiu de casa começando por
abraçar a profissão de castrador e de curandeiro de animais, atividade
conhecida pela designação de “alveitar”, ou seja, veterinário não diplomado.
A primeira contrariedade da sua vida foi o amor escondido que tinha com a
sua prima Aninhas, ao qual, o seu tio e pai daquela bela donzela, um ex-soldado
das fileiras de Napoleão que, aquando das invasões francesas, por cá ficou, não
davam tréguas nem consentimentos. O amor entre os dois, esse, resistiu pelos
anos fora até se consumar o enlace… o Zé nunca foi homem de desistir.
Passava por Novelas, Bustelo, Lousada mais precisamente em Caíde de Rei... e
poder-se-á entender que o poeta António Nobre já nos seus apontamentos se
referia ao Zé do Telhado quando dizia, “ E eu ia álerta, olhando a estrada, que
em certo sitio, na Trovoada, costumavam sair ladrões. Ladrões! Ó sonho! Ó maravilha!
Fazer parte d'uma quadrilha, rondar, á Lua, entre pinhaes! Ser Capitão! Trazer
pistolas, mas não roubando, - dando esmolas…” [Viagens
na Minha Terra].
Era assim visto o salteador pelo poeta, quando o pai da Aninhas acabava por aceitar o enlace da sua filha
Aninhas com o seu sobrinho Zé do Telhado, goradas as ideias peregrinas de a ver
casada com um dos abastados ricos pretendentes da região. Com a breve acalmia
da guerra civil, regressou a Lousada, onde vivia a sua amada a fim de consumar
o casamento. Assim aconteceu, tendo, regressado à vida das feiras e práticas de
“alveitar”.
Chegada a vida
militar, lá foi rumo a Lisboa. Rapidamente, devido à sua subtil inteligência e
bravura se tornou no orgulho dos oficiais do Regimento onde serviu, sendo
conhecido no meio pelo “soldado do Norte”.
E foi exatamente aí
que a sua vida começou a projetar o Zé do Telhado que conhecemos. A falta de
entendimento entra os protagonistas políticos de então, levou à guerra civil
entre Setembristas e Cabralistas, na qual o nosso Zé se viu envolvido, lutando
pelos Setembristas, ao lado do Marquês, Sá da Bandeira.
Entretanto, a
guerra civil retoma o país, agora mais sangrenta que nunca devido ao
envolvimento popular.
O nosso leal Zé do
Telhado ainda pensou que, o seu general Sá da Bandeira posteriormente lhe
arranjasse um bom emprego pelos serviços prestados, para fazer frente à
situação de miséria em que a família se encontrava… Zé do Telhado gastou todo o
dinheiro que tinha e hipotecou todas as propriedades que possuía para ajudar a
luta contra os Cabralistas.
Bem esperou mas,
nada! Terminada a guerra, ficou o gosto e o proveito da guerrilha por conta
própria: é o João Barandão, é o Remexido, é o Zé do Telhado.
Este
atingira, ao serviço liberal, a glória, com a atribuição da Torre e Espada. Finda
a guerra pretendeu um emprego no Depósito do Tabaco, no Porto. Não conseguiu.
Com a miséria
dentro de casa, Zé pede ajuda batendo a várias portas… todas se fecham
incluindo a do padre seu compadre e padrinho da sua filha! Agora, com a vitória
dos “Cabralistas”, ninguém conhecia o fiel lutador Zé do Telhado. Ao chegar
perto de casa, Zé ouve os filhos a pedirem pão à mãe Aninhas. Era demais! Zé
não consegue suportar mais aquela situação e decide roubar para matar a fome
aos seus.
O primeiro roubo
foi a um modesto pedreiro. Zé pergunta-lhe: quantas moedas trazes? Tenho dez
mas, foram ganhas honestamente com o meu trabalho! O nosso Zé diz-lhe:
dividimos isso… dá cá cinco e fica com outras cinco. Anos volvidos, Zé do
Telhado viria a devolver as cinco moedas ao modesto trabalhador.
Entre lamentos da
sua situação e a realidade, Zé integra-se na famosa quadrilha do conhecido
“Boca Negra” onde militava o seu irmão Joaquim do Telhado.
Os assaltos
sucederam-se, nas regiões da Beira Alta, Beira Baixa, Vale do Sousa, e a
distribuição dos roubos pelos necessitados, integrado no mesmo bando, entre a
“honra” da substituição do chefe Custódio, o “Boca Grande” e a presença na
quadrilha, do seu inimigo de estimação, José Pequeno. Os assaltos estendem-se,
agora, às regiões do Alto Douro, Minho e Trás-os-Montes. A fama de Zé do Telhado depressa se espalhou pela região. Aninhas, não
suporta aquela situação e trata de arranjar formas do marido ir para o Brasil
mudar de vida e limpar a reputação da família. Zé do Telhado viaja para o
Estado do Rio Grande do Sul, naquele grande país em busca de alguma riqueza.
No Brasil, Zé retoma o seu trabalho de “alveitar” e, bem-sucedido. Zé é
informado que, o dinheiro que envia para a sua Aninhas nunca lhe chega às mãos.
A raiva e as grandes saudades dos filhos e da sua querida Aninhas, tomam-no,
fortemente, e decide voltar à sua aldeia…ainda mais pobre do que nunca.
Pela iniciativa do
governador de Lousada, que pede reforços militares, começa a perseguição das
Autoridades a Zé do Telhado. Com a destreza e valentia que o caracterizam, lá
vai escapando e enfrentando as forças militares. O cerco aperta-se, cada vez
mais!
O administrador do Marco de Canavezes empreende uma perseguição, sem
tréguas ao quadrilheiro, contando com a colaboração do traidor José Pequeno
que, dá informações sobre o seu chefe. Zé do Telhado vai no encalço do
sanguinário e traidor José Pequeno....
Fundamentado:
JOSÉ DO TELHADO O ROBIN DOS BOSQUES PORTUGUÊS?VIDA E AVENTURA José
M. Castro Pinto Plátano Editora, Lisboa 2002
Jorge Afonso publicava in Diário de Aveiro de 29 de Outubro de
2007
António Nobre - Viagens na Minha Terra.
Processos Históricos dos Tribunais do Distrito Judicial do Porto
Sem comentários:
Enviar um comentário