Imagino hoje
personalidades que muito admiro, que pisaram o sublime chão onde nasci,
desaparecendo ao longo dos dias, dos anos e dos séculos. Nobre foi admirável! “Às vezes, passo horas
inteiras...e
jornadeio em fantasia essas jornadas que eu fazia ao velho Douro, mais meu
Pai”; [Viagens na Minha Terra]. Quem não conhece António Nobre!
Personalidade que trilhou
exactamente o mesmo solo, os mesmos caminhos, passou pelos mesmos percursos,
e tal como outros deixaram-nos apenas com o seu conhecimento, as suas mensagens, as suas escritas e
os seus pensamentos.
Eu sonhava que esta era a minha aldeia!
“E, na subida de Novelas, o
rubro e gordo Cabanelas, dava-me as guias para a mão: Isso... queriam os
cavalos! Que eu não podia chicoteá-los... Era uma dor de coração";[Viagens na Minha Terra].
É certo que a
ganância de uns, a campanha pela importância de outros não reza à história. De uma forma sublime como quem passa despercebido sem nunca se preocupar com
o que pensavam os outros, estas figuras sobressaíram e ganharam um peso tão grande, que quase se pode dizer que alguns até viveram na sua sombra...
A empresa de Cabanelas ganhava forma com a famosa
diligência a cavalos, mesmo aqui ao lado, a par com a
antiga estação de Novelas, onde "olhos fitos nestas traseiras, sonhando o tempo que lá vai..."; [Viagens na Minha Terra].
Foi realmente este o
Escritor português que mais me fascinou!
António Nobre nasceu em
1886, no Porto, a dezasseis de Agosto de mil oitocentos e sessenta e sete,
produto de velhas Famílias de Entre – Douro – e – Minho.
Na biografia
apresentada por Mário Cláudio, confirma-se o quinto filho do casal Pereira
Nobre, o poeta “decorrerá a sua infância e adolescência, sob o signo do
intimismo pequeno – burguês, entre a baixa da capital do norte e os campos dos
arredores de Penafiel e da Lixa.
Votado a uma
instrução primária de cunho eclesiástico, empreendida por mestre que reproduzem
os princípios da rigidez e da afabilidade, eis que começará a contemplar o seu
retrato, num contexto onde se entronizam os ícones dos manes ancestrais…
Em mil
oitocentos e oitenta e oito, parte António Nobre para Coimbra, a fim de
frequentar o primeiro ano do curso de direito. Nesse espaço geográfico, que
profundamente o marcará veremos o poeta descobrir um contexto universitário
caracterizado, ainda, pelo escolaticismo medieval, se bem que segregador de uma
admirável camaradagem de afectos e de letras. E, entre as aulas, nos gerais, a
que assiste, algo distraído da lição doas lentes e dos compêndios, e uma certa
boémia, que o há-de arrastar por melancolias e patuscadas, começará ele a
erguer o corpo de um imaginário que irá resumir-se, a breve trecho, num tecido
de linhas escritas a tinta negra.
Depois de
várias viagens á aldeia do Seixo ora passando por Novelas onde o Gordo e rubro
do Cabanelas lhe dava as guias para a mão; [Viagens na Minha Terra] / António Nobre; ora por entre
os Rios, onde era esperado nas termas ou até em Caíde a caminho da sua casa
no lugar do Seixo, espelhada realmente como um sitio muito saudável, com
pinheiros, água admirável, e um ar deliciosos, dizia: “Tenho fé nele e em
Deus.”
O
agravamento de uma infecção pulmonar de que vinha padecendo, com várias
intermitências, determinará a partida do poeta, a conselho médico.
António Nobre
inicia o calvário do Doente de tísica, em busca da saúde que lhe é negada
continuamente atento aos sintomas que revela, ora confiante, ora desanimado,
num espaço onde a brancura, da neve e dos sanatórios, constitui o austero e
signo dominante.
No ano de mil
e novecentos preparado para a partida veio ao colo para o carro que o conduzia
à estação de Caíde, onde o Dr. Aníbal Louzada o esperava para acompanhar…
Sempre
calmo, resignado, sem uma queixa, encobrindo o seu desanimo para que não
perdessem as esperanças assim iam passando os dias…
Após
brevíssima temporada, no seixo, debilitado como nunca, instala-se, na Foz do
Douro, na residência do seu irmão Augusto.
Ao raiar da
manhã de dezoito de Março de mil novecentos, muito serenamente, e defronte do
oceano, “Sentado junto da cama. Disse passados momentos, que se sentia muito
mal e que ia morrer.
E sem que lhe
notasse qualquer sintoma de agonia, ele, que estava sentado na cama, recostado
em almofadas, inclinou-se em mim, abraçou-me, e assim ficou”; Foram estas as recordações de Augusto Nobre.
A Noticia o
Comércio do Porto a vinte e um do mesmo mês e ano, reporta o seu falecimento,
servindo-se dos habituais lugares – comuns, na absoluta inconsciência de uma
grande perda.
A morte de um
dos maiores poetas portugueses de sempre. Novelas 18 de Março de 2012
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