O tempo não comprou passagem de volta.
Ainda me lembro, nas
horas de nostalgia dos contos e da minha vivência nos períodos de infância, que
saudades, onde já tinha recordado a lareira com uma pedra no chão, e sobre ela a lenha abrasava a cozinha,!
Era eu uma criança, a à poucos
anos deixara-se de usar candeeiros a petróleo e a luz eléctrica em casa de
algumas famílias já era uma realidade.
Para esses residentes
de Novelas as candeias de azeite ou os candeeiros a petróleo, começariam a
pertencer ao passado e possibilitou igualmente a mecanização em grandes quintas
como a Quinta da Tulha ou a Quinta da Folha e começava a ouvir-se pela primeira
vez a rádio.
Eu, de risca ao lado
com um cabelo perfeito, jogava ao peão na rua, outras vezes ao espeto com os
amigos, observando ora o padeiro, ora o peixeiro de porta em porta, que me
serviam de referência horária na aldeia de Novelas.
Nesse tempo o acesso
à cidade era pela estrada principal e os caminhos eram sinuosos, sendo para
isso semanalmente enviado um robusto cavalo, pelo comerciante, que transportava
a farinha, proveniente dos moinhos junto à ponte do rio Sousa.
Andava-se muito a pé,
a estrada principal não era alcatroada e os caminhos todos poeirentos no verão
e lamacentos no Inverno, serviam o acesso ao caminho-de-ferro e a estação de
Penafiel em Novelas, era uma realidade, como excelente meio de transporte.
A linha do Douro com
este melhoramento veio proporcionar como é óbvio um substancial desenvolvimento
à freguesia de Novelas e uma melhoria nas condições de vida daqueles que podiam
trabalhar.
As primeiras e
verdadeiras lojas a servirem o público surgiam posteriormente em Arcozelo “ O
Senhor Ângelo” nos Penedos “A Loja do Oliveira” e na Ponte a “Loja do Neca e do
Alfredo”; o talho era na actual Adega Regional e o barbeiro mesmo ao lado; e
ainda a drogaria a par com a padaria.
Tornava-se
possível, em casa como forma de descanso depois do almoço, as mulheres
reunirem-se em frente da telefonia para ouvirem o romance “ Simplesmente
Maria”, ou os homens ouvir a informação, tal como o relato dos jogos de
futebol, tudo isto já antes da vinda da Televisão.
As tabernas foram-se
transformando em cafés (onde café não havia) ficariam a ser tabernas mais
civilizadas, pelo menos com cadeiras e mesas, em vês dos tradicionais bancos
quadrados de madeira.
Depois apareceu em
mil novecentos e setenta e dois, a Associação Recreativa Novelense e todas as
noites eram casa cheia, principalmente para a noite de teatro e as emissões de
televisão já eram uma realidade e começavam a aparecer pela primeira vez nas habitações.
As bebidas mais
populares da altura para os que não bebiam vinho, era uma mistura de gasosa com
cerveja.
Os dias eram
risonhos... e foi numa manhã risonha embora orvalhada, mas igual a todas essas
manhãs mas com sol quentinho, quarenta anos depois adormeci sobressaltado e
senti os cobertores escorregarem por entre os dedos dos pés, ainda me lembro de
me proteger segurando-os, mas com o tempo deixei-me levar pelo sono e adormeci.
Estranho…
sonhei outra vez. Lembrei-me da primeira vez que o meu pai me tinha dado a primeira moeda
de vinte e cinco tostões, o primeiro sumo “a laranjina”, e a primeira
reprimenda, talvez daí a razão principal do cenário ainda continuar vivo na
minha memória e o motivo por que o descrevo.
Recordei… ao sair
para o campo, ficava para traz e junto á Quinta da Folha começava a observar a
natureza, que bonitas as borboletas quando pousavam nas flores e as abelhas que
tentava apanhar… ; então as avelãzeiras ao meu lado direito, precedendo á
capela da Senhora do Loreto na casa da Quinta e atrás de nós o sol que há pouco
tinha nascido.
Um chão de
terra cultivado na Arribalta que por sinal tinha sido do meu avô paterno, de
onde mais tarde retornava com o meu pai e família para o almoço.
Como eu gostaria de
saber transmitir numa tela, estas imagens de infância que ainda guardo no meu
pensamento, o ouvir dos diferentes cantos dos pássaros, que perguntava ao meu
pai e ele me dizia… é o rouxinol, é o pintassilgo, ali é o casebre da Lagoa,
isto ao longo das terras de cultivo onde mais abaixo se avistava uma represa
onde a agua límpida corria.
A seguir o canto já
era outro, o cuco, a poupa e o gaio, este último lembro-me ter visto alguns…
não talvez na minha primeira vivência, pois a minha memória ficou mais
acentuada com aquela imagem do contacto com o espaço aberto e para mim,
grandioso da natureza.
Á tardinha lá ia ao
banho ao rio Sousa, com uma bóia gigante oferecida pela garagem do Albano
Miguel em Penafiel, depois ainda o sol se preparava para esconder, e eu já me
dirigia para o “ Clube” passando pelo café, via as andorinhas que faziam ninho
nas varandas, nos alpendre e beirais a voltarem ao seu ninho.
Era um tempo de se
apreciar a paisagem, aquele envolvimento com a natureza, naquele ambiente
rural, naquela idade do desabrochar para a vida… visto por um adolescente.
Mas o tempo foi
passando, fui crescendo e amadurecendo e mais tarde o tabaco era um erro
imperdoável, escondido para que não visse meti o cigarro por entre os dedos ao
bolso e enquanto conversava incendiou-me o forro das calças. Uma verdadeira
aventura para um jovem já com dezassete anos de idade ao ser surpreendido pelo
pai.
Enquanto caminhava
ouvia o chilrear dos passarinhos naquela tarde, que (hoje sei) era de
Primavera, ainda me lembro… do caminho marcado pelos fundos rodados dos carros
de bois e eu gostava tanto daquela paisagem e contacto com a natureza, que não
sei porquê, as minhas retinas de criança, fixaram e gravaram para sempre na
minha memória, aquele cenário para o resto da minha vida.
Agora tenho lembranças e saudades!
Novelas 8 de Outubro
de 2012.
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