terça-feira, 9 de outubro de 2012

EXCEPCIONAL É TER UMA FAMÍLIA .

ANTÓNIO DA SILVA MEIRELES 1935/2008!

Excepcional é ter uma família, onde o filho teve um pai que amava o filho que amava o pai, apenas um filho feliz que teve o prazer de ter um pai assim.
Lembro-me claramente ao longo da minha infância, de ver o meu pai a escrever ou a ler regularmente, e recordo mais tarde os seus conselhos de que estudasse e ponderasse, no entanto deixei pendente um curso superior.
Foi o começo para ao longo da vida encontrar quem me ajudasse a caminhar, frequentei e amestrei variadíssimas acções de formação que me ajudaram na minha actividade profissional. Digamos que sou apenas um autodidacta, que gosta muito de ler e sabe escrever, surpreendido por encontrar uns rapazotes, que nem o sabem fazer!
Por isso aqui estou seguindo as suas pisadas e tal como em outros anos encontro-me na hora da partida, que para alguns se diluiu no tempo, para outros o caminho tornou-se mais fácil e as palavras de circunstância foram levadas pelo vento.
Sei que tudo isso é normal, pois já passaram quatro anos, mas a minha memória começou a fixar melhor as coisas que via, a compreender ainda mais aquilo que estranhava, a decifrar algum tempo antes... e depois!
Eu sei... o meu pai foi um HOMEM!
Recordo os dias risonhos... aqueles dias lembram-se...foi numa dessas manhãs alegres embora orvalhada, igual a todas essas manhãs mas com sol quentinho, que adormeci a sonhar com paraíso. Sobressaltado acordei e senti os cobertores escorregavam por entre os dedos dos pés, ainda me lembro de me proteger segurando-os, mas com o tempo deixei-me levar pelo sono e adormeci novamente...
         Estranho… sonhei outra vez. Eram oito horas e acordei novamente inquietado, era dia sete de Outubro de dois mil e oito, preparei-me apressado para o trabalho, pequeno-almoço, miúdos à escola e às nove horas a trabalhar. Tinha nesse dia percorrido o tal paraíso e preparava-me para viver um verdadeiro pesadelo.
Foi ao meio-dia, do dia nove de Outubro que o telefone tocou e que desejei não sonhar mais, um amigo pedia-me para dirigir-me ao hospital. Quatro anos depois… percorro o trajecto, aquele tal trajecto que todos percorremos ou vamos percorrer um dia, o mesmo que em tempos era o dito paraíso que percorria em criança, o paraíso da minha infância, o da memória a desabrochar para o mundo, como aquela manhã de Outono, lembram-se... desapareceu… mas enquanto eu viver, ainda me lembro…
O caminho hoje é diferente; esconderam-se os vestígios dos animais de carga e os rodados dos carros de bois, a represa e o casebre da Lagoa não existe e no seu lugar surgiu uma casa, (não casebre) mais bonita e confortável; a agua não se vê correr; futuramente irá nascer o novo Centro Comercial e ao seu lado a oponente estação; um pouco mais distante o moinho reluzente até parece que "permite um banho refrescante nas águas que eram límpidas" do Sousa; e as aves… essas desapareceram, o seu cantar foi substituído pelo som dos novos comboios, que não são "a vapor"; as terras que outrora estavam bem cultivadas, foram divididas pelo o novo acesso da via rápida, para daqui algum tempo quando lá circular ter que pagar ao estalajadeiro, para tratar do jardim!
Mas que jardim! Qual jardim do paraíso qual quê? As terras estão completamente abandonadas, os campos transformaram-se em montes; onde o matagal oferece uma imagem desoladora parecida com paisagem de terra queimada; os HOMENS de palavra escassearam ou desapareceram, outros ficaram diminuídos e apareceram à fartasana os homensitos!
À coisas que nunca esquecem, nem sei o que dizer; será talvez por serem das primeiras que o nosso cérebro guarda quando começamos a tomar consciência do que existe ao nosso lado e ficam-nos gravadas para sempre nessa calculadora maravilhosa a que chamamos memória, e que vão e vêm para o resto da nossa vida.

Esta é uma delas, lembro António da Silva Meireles, meu pai! 
Novelas 9 de Outubro de 2012.


 



2 comentários:

  1. Obrigado pelo texto Maravilhoso que me fez recordar o rio e o tempo do meu navegar de vida, nessa aldeia de mel, na doçura de Gente que sabe o que é vida de Pessoas. Linda homenagem ao HOMEM, ANTÓNIO DA SILVA MEIRELES. O meu agradecimento ao autor do texto, pelo seu sentir e gratidão aos que fizeram a obra, assente nos verdadeiros Valores da Humanidade. A todos o meu abraço.Viva Novelas!
    Angelino Pereira

    http://lotusmagia.blogspot.com.br/p/angelino-pereira.html

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